Não gosto de falar da virada de ano convencional, hora de festa ou de reflexão, quando se vai a missa e odeia meio mundo, pede perdão mas faz maldade, abraça a família da qual preferia fugir, manda uísque pros colegas de a quem detesta e um presentão para alguém que te despreza.
Nem vou falar dos escravos do consumismo, que se endividam em dez prestações para dar presentes impossíveis a pessoas nem sempre amadas, ou cujo o amor tem que ser comprado.
Não falarei do começo de ano amargo dos que dizem que pra eles essas datas não existem: espalham o negativismo de sua decepção com a raça humana, que na verdade nem é grande coisa, portanto nem deveria esperar que fosse.
Quero falar do começo do ano distante de religiosidade fingida, amor com hora marcada, presentes supérfluos ou adquiridos com sacrifício.
Quero falar de confraternização , abraço sincero, acolhimento da família, sabendo que ali a gente é respeitado mesmo quando não é entendido.
Falo de uma tentativa real de recomeçar, até onde possível com um olhar diferente a quem normalmente não temos tempo de abordar, gente que nos interessa independente do status, da grana, importância e possível utilidade.
Falo de uma entrada em um ano novo abrindo portas e janelas da casa de da alma, sem frescura, sem afetação, sem mau humor, sem pressão nem formalidade. Pensando que a gente poderia ser mais amigo, mais irmão, mais filho, mais pai ou mãe, mais humano.
Começar não com planos mirabolantes que não se podem cumprir, mas inventando novos modos de querer bem, inclusive a si mesmo, sem isso não tem jeito de gostar dos outros de verdade. O bom é entrar num novo ano sem lamentações importunas, sobretudo sem acusar o destino, o outro, o pai a mãe, a funcionária, o chefe, a vida...
Não falarei nunca de festas de passagem de ano tendo que encher a cara para agüentar o resultado infeliz de toda uma vida, o desamor dos parentes chatos, dos filhos, dos maridos irônicos, da sogra carrancuda, do amigo interesseiro ou do prenuncio das contas que se acumularam porque a gente gastou com coisas que não podia e não devia.
Algumas pessoas saem da manada e se propõem a cada passagem de ano, refletir sobre sua vida mais vezes, não só numa data especial, independente da crença, ideologia e vivências, às vezes uma data marcada pode nos empurrar para menos arrogância, menos futilidade e mais humanidade...
E como não é só de palavras que a gente vive, vamos as imagens












